A colcha de retalhos...
Sou uma colcha de retalhos
Construída por minhas lembranças...
Tenho quadros de pintura retocada,
Tenho outros de pedrarias rebordados,
Tenho de estopa, misturados com veludo,
Tenho de cetim e de pérolas bordados...
Um conjunto, talvez, meio sem gosto...
Talvez sem a fineza necessária
Para ser uma bonita colcha de retalhos...
Não posso escolher os mais bonitos,
Os mais alegres, os mais finos ou vistosos
E deixar fora aqueles que são tristes,
Envelhecidos pelo uso de amorosos
Versos que componho para ti...
Dependendo do modo que se olha
Nenhum dos quadros que perfaz a colcha
É feio: todos têm significados...
Alguns foram bordados só com lágrimas...
Outros com meus sorrisos tristes...
Outros têm tua marca inconfundível
Foram feitos e bordados com o teu riso...
Muitos costurados a duas mãos
Em meio a beijos, sorrisos... Tantas juras...
Outros têm marca do sangue em minhas mãos...
Agulhas rombudas... e linhas ordinárias,
Também estão presentes no que sou:
Uma colcha de retalhos...
Pudesse eu tingí-la
De apenas uma cor...
Retirar os quadros feios do passado
E refazê-la em cetim ou em veludo
Rebordando todos os quadros com mil pérolas
Para que agasalhassem teus pés, ó meu querido!...
Mas é impossível...
Eu sou a colcha de retalhos...
E cada quadro
É uma das minhas histórias
Alegres ou tristes... Desta minha vida
Que eu não soube tecê-la, toda, inteira...
Não é bonita, mas é muito verdadeira...
Não a deixarei por herança pra ninguém...
Tem mistérios, tem segredos, tem degredos,
Que, certamente, eu levarei a mais Além...
Tem lembranças de sorrisos e olhos puros
E de beijos virginais...
Como poderei dela despir-me
Se ela é parte do meu ser tão desigual...
Sou apenas uma colcha de retalhos
Construída por minhas lembranças...
Mas meus olhos param mais em alguns quadros...
Os que foram construídos
Por mim e por ti...
Estes, cuido com desvelo incomparável
Pois são os mais belos que teci...