O ÚLTIMO SUSPIRO DE AMOR
O ÚLTIMO SUSPIRO DE AMOR
J.B.Xavier
Restou-me ainda um suspiro,
dos tantos que me roubaste,
um hausto de esperança
uma transfiguração desavisada,
uma imagem imaculada
e uma espera desesperançada...
Mas trago-o no peito,
suspenso como gotas de orvalho
no inverno de algum ramo descuidado,
trago-o como prenúncio sempre aguardado
como um lamento há tanto anunciado,
como um ocaso que findou, sem ter findado...
trago-o irresoluto, indeciso e inerte
como se da morte já lhe fora dado
o anúncio do último chamamento...
Guardo-o como a realidade que nunca aconteceu,
o sonho que ninguém jamais viveu
como um sorriso que o tempo entristeceu...
Guardo-o como última réstia de vida
de um amor que o tempo soterrou
como o último arco-íris
sobre o encanto já tão desencantado,
sobre o colorido de um óleo desmaiado,
sobre a expectativa do que já não é esperado...
E de tudo o que se foi, ficou apenas
essa agonia de ver nascer um novo dia
e anoitecer e ver de novo outra aurora
na eterna progressão com que deliro
mas guardo-o no abismo teu, em que me atiro
porque nele tu estarás, quando eu exalar este último suspiro...
* * *