é no silêncio
é no silêncio
do teu olhar gelado
que me dispo
peça a peça
camada sobre camada, sobreposta,
em gestos títeres
de boneca vidrada a porcelana fina.
é no silêncio dum palco mal iluminado
p’la lua madrugada ali ao lado no umbigo escuro do rio
que me deito, em cama áspera e nua,
nos lençóis do teu caminho…
indefesa, desarmada,
pagã em espera.
e tu chegas, como punhal icónico
rasgando a terra…
envolvo-me na ternura que me resta
recubro-me aos flumes vagos de desalento
afasto negrititudes ao pensamento,
… suspiro lágrimas exangue,
ébria p’lo pó de ilusórias estrelas cadentes,
e pinto de sonhos o cinzento das paredes expostas
às intempéries em cores aquosas de claras aguarelas,
… e, no silêncio,
me entrego em magrezas de palavras
e desejos escarlates d’abismos siderais.
em monocórdico gemido,
à mó empedernida dum moinho de vento
sem albas velas,
abro, uma a uma, pernas às palavras,
enquanto mutilo braços d’asas
à levitação plena da alma …
é no silêncio que tu te escusas
de ler um volume antigo,
papiro originário onde registo, um a um,
cada momento,
da meteorologia angustiosa e triste
dos meus mais íntimos sinais.
[…e no silêncio …concluo que não sei sequer
se quero ou sei voar mais...
um pouco mais,
ou se, diminuta ... desisto.]