Imagem: O Nascimento de Vênus - Botticelli
Música: Minuet 6 - Mozart


Definição de amor
 

Um poeta sonhador procurou no dicionário da vida a melhor definição de amor.
Encontrou uma infinidade de frases inacabadas, com espaços em branco a serem completados.
Não leu as frases inacabadas, apenas fechou os olhos e os espaços em branco invadiram a sua alma.
No primeiro espaço viu uma criança sorrindo em seu berço de inocência.
A criança olhava para tudo sem entender nada e sorria ao menor gesto.
Também, notou um seio redondo sem as volúpias de outrora a jorrar o néctar da vida.
No primeiro espaço em branco da frase inacabada começava a nascer o amor, sem conceitos, sem definições, apenas, com as imagens da vida.
A brancura do segundo espaço cegou-o temporariamente
E naquele lapso de cegueira dos olhos, o olhar de sua alma alcançou uma verde campina, com vales, com colinas, sem retas e sem esquinas, com apenas uma estradinha
que levava a uma casinha cheia de flores nas janelas.
De perfil ela parecia pequena, olhando de frente ela era um castelo e em sua fachada estava escrito com letras douradas: aqui é a morada dos sonhos...
A terceira, não era frase, era somente uma palavra e o espaço em branco cresceu e ele se sentiu pequeno.
Na pequenez do seu ser, viu uma rosa de pétalas aveludadas, vermelha como o sangue que da cor a vida, exalando o inebriante perfume da eterna atração do amor.
A quarta frase era longa, cobria três linhas e o espaço em branco era uma página inteira.
Com aquela folha em branco cobriu o seu rosto, sufocou a sua racionalidade.
O olhar da lânguida alma transpassou a folha em branco e muito além do papel, viu um enorme campo e milhares de mãos anônimas, autônomas e em sincronia, a preparar o terreno, a deitar a semente, a acariciar a planta
que respondia com um ondulante sorriso e com hálito das flores de suas espigas.
As mãos que deitaram as sementes na terra, numa relação de amor, da terra tiravam o pão.
Virou muitas páginas de frases inacabadas e de espaços em branco, encontrou uma frase longa e com espaço pequeno, que apesar de pequeno,
A sua alvura contagiava os olhos com graça e beleza.
Na brancura do pequeno espaço observou um jardim multicolorido, onde as flores acenavam, saudavam a todos, movidas pelas invisíveis forças do vento.
O mesmo vento que carregava para longe a agradável profusão de perfumes, perfumes da amizade sincera, fonte inesgotável de amor.
Folhou várias páginas do dicionário da vida procurando a definição do amor e encontrou frases incompletas e muitos espaços em branco.
Naquele espaço em branco cada um escreve a sua história,
cria a suas imagens, pois, o amor é infinito e a sua grandeza não cabe na definição de um simples mortal...

Roberto Pelegrino
Enviado por Roberto Pelegrino em 01/07/2009
Reeditado em 01/07/2009
Código do texto: T1676950