Meu amor, eu te amo tanto...
- Meu amor, eu te amo tanto!...
Por esta razão inscrevo-me
No rol dos esquecidos...
A tua imagem me acompanha
Em minha solidão
Em todos os desertos onde habito...
O dia é escaldante nos desertos
E as noites muito frias...
Há tempestades de areia
Que cegam meus olhos
E vergam meu corpo...
Fiz-me oásis para ti...
Agora, sou apenas miragem...
Jamais saciarei a sede dos peregrinos
Nem lhes darei a sombra que é só tua...
Sou aquela sempre distante
Intocável
Inatingível...
Jamais voltarei a ser leito macio
Coberto de pastos verdejantes
E acompanhado
De águas cristalinas...
Minhas tâmaras foram feitas apenas para teus lábios...
Os figos suculentos e doces em que me transformei
São apenas teus,
Para aliviar tua fome e sede de amor...
Por isso
Eu me inscrevi no rol dos esquecidos,
Transformei-me em miragem intocável
Pois “sou” apenas quando “fui para ti...”
E meu destino agora é vagar pelo deserto...
Incerto...
Fiz-me “não-ser...”
Porque é tanto o meu querer,
Que não há motivos
Para sorrisos;
Ou andar pelas campinas
Ou pelos verdes campos de minha terra...
“Sou fugitiva e estranha
Na terra dos viventes...”*
Fiz-me volátil
Como a neblina que recobre os jardins
Das manhãs que não mais verei...
Evadi-me...
Desterrei-me...
Bani-me...
Expulsei-me...
Exilei-me no deserto...
E quando o simum me chicoteia,
Pago a pena por haver te amado tanto...
Talvez um dia passeies pelo deserto...
E, em meio à areia,
Ouças, vindo sem saber de onde,
Uma voz que canta
O teu nome baixinho
E pede perdão...
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* NOTA DA AUTORA: alusão à frase dita por Caim a Deus quando do assassinato de seu irmão, Abel. (Livro de Gênesis - Biblia).