Fogos.
Aqui distante e sozinha
sobressalto a um estouro
Cabum!
O enxofre vira fumaça
Queima o carvão
Reage o Salitre
Esvai-se nitrato de potássio
Estrondo luminoso
É pólvora!
A noite cheira a São João
Fumaça de bombinhas e catolés
Os moleques gostam de fazer barulho
São Neros com suas faisquinhas
e de repente
BUM!
E eles largam os fósforos
Olham antoninos tamanha explosão
O céu alvo de carbono
nuvens de combustão
O sódio pinta estrelas de ouro
O lítio queima em caudas de cometas
o alumínio faz luz em escuridão.
E como o meu
Seus rostos refletem oleosos
O verde, vermelho amarelo e branco
E as luzes me chamam
Me guiam...
são os fogos,
são os mais lindos
Explodem a magia da química
São ciência da criação
Fazem bolhas, corações e até nomes,
Até que o ritmo vai diminuindo
E chega a última explosão
e eu me apago como as pequenas estrelas
ressoando aos ecos como uma consolação
A última explosão foi a mais triste
partiu-se em milhões de pedaços
que queimaram e descendo aos poucos
sumiram sem tocar o chão.
O céu retoma o antigo tom
E a rotina volta a sua tina
Minha mão que imaginou segurar a tua
continua suspensa no nada
pensei ter ouvido seu coração bater
Achei que eu tinha brilho nos olhos
E tive
Mas foram de fogos
foram de artifício
O brilho não volta
Você é o pirotécnico
Venha e acenda
Ateie o fogo
Devolva o brilho do meu olhar
Traga sua luz em sete cores
Mostre aos homens o que é possível fazer sem pólvora
Conteste a ciência
Prove que o amor existe
E que aos enamorados pertencem as luzes
E que elas só acendem
Na simples presença
Do um no outro
O amor é magia de alquimistas.