ERA UM MENCER DE SÃO JOÃO

Era um mencer* de São João.

Banhava-se trás dos pinos,

como uma ninfa, a manhã.

O sol — um sátiro louro —

desfolhou nos salgueirais,

uma gargalhada de ouro.

Ela, toda ruborosa,

fugiu por entre os pomares

de Oural, vestida de rosa.

Molhada a sua cabeleira,

passou pelos prados verdes.

— Estava a erva molhada... —

Nos soutos de Valminhor

deixou, co'a pressa, enguetada**

uma madeixa de sol.

Passou ligeira, ligeira,

por um cômaro*** florido,

acarão de uma silveira.

Disse-lhes adeus às rosas

novinhas, quando passou,

e quedaram senhardosas****.

Viram-na passar os vales.

Viram-na os ermos esquivos

e os escuros pinheirales*****...

Todos a viram passar.

Ia ligeira, ligeira.

—Disque***** se afogou no mar...—

Aquilino Iglesia Alvariño (. ) 'Corazón ao vento'.

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(*) Mencer ou Amencer: Amanhecer.

(**) Enguetar v. i. e pr. Prender-se a roupa nas silveiras.

(***) Cômaro: Cômoro.

(****) Senhardoso adj. (1) Que sente senhardade.- (2) Melancólico, triste.- (3) Solitário.

(*****) Pineirales: Pinheirais. Plural castelhanizado nalgumas falas galegas.

(******) Disque adv.: Parece que, diz[em] que: "disque anda de ruada"; "disque foi certo". [de diz-se + que]