MADRUGADA DE SÃO JOÃO
Madrugada de São João,
Madrugada a mais garrida,
Que baila o sol quando nasce
e ri quando morre o dia.
Onde vai Nossa Senhora,
onde vai Santa Maria?
Vai para a banda do mar,
vai para a banda da ria.
Que diz a Virgem, que diz,
que diz Santa Maria?
Qual será a meninha, qual,
que colha a flor da agua fria?
Não será dama, nem "deuda"*,
que será a princesa Aldina,
A princesa namorada,
filha do rei da Galiza.
Não há outra como ela,
tão feitinha e tão bonita
co'aqueles seus olhos claros,
da cor da água da ria.
Só tu Aldina serás, quen leve
a flor da água fria.
Ergue-te do leito nena**,
ven para a banda do mar, que ainda
que tu sozínha venhas
tornarás em companhia.
Na torre do real palácio,
embora* ainda está longe o dia
movem-se os linhos dum leito,
alguma gente se erguia.
E a princesa, Dio-la garde!***
era a mui garrida Aldina,
Que vai dia de São João
catar a flor da água fria.
(Popular galego)
::::
(*) "Deuda", castelhanismo por "parente" ou "familiar".
(**) Nena: Menina. De uso habitual na Galiza.
(***) "Dio-la garde!": "Deus a guarde!", expressão em que o castelhano "Dios" fica "galeguizado", porquanto transcreve a pronúncia popular galega.