' CATEDRAL DO DESERTO"

Catedral do Deserto

ITALO ZAILU PEREIRA GATTO

Eu creio em teu amor, inteiramente, creio...

... pois ele se revela em teus olhos e o leio

no gesto que me dás, nas palavras que dizes,

destruindo, uma a uma, as minhas cicatrizes.

Eu creio em teu amor porque ele é imortal,

como o sol , como o céu... É minha catedral,

onde, esquecido, ajoelho; onde, ajoelhado, sonho;

onde, sonhando rezo os versos que componho

como flores nascidas num alvorecer...

Muitas vezes a morte em mim veio morrer...

E tive fome e sede... E, tento sede e fome,

Esquecido do mundo, esqueci o meu nome!

Foi quando pus o olhar dentro de meu vazio...

Tremeram nervos, dentes e eu tremi com frio!

A noite arremessou- se a mim como um assombro

e lutamos os dois, frente a frente, ombro a ombro...

Mas, vencido, caí e caíram comigo

o manto, minha espada e... me tornei mendigo !

Fui beduíno, andei e, andando andei errante:

o céu sobre a cabeça; um horizonte, adiante...

O sol queimando a areia e, na areia, os meus pés...

Olhei para mim mesmo e perguntei:- Quem és?

Quem és ? Quem és? Quem és ? ... _ Mas eu era, por certo,

o deserto assustando a areia do deserto !

Tantos anos assim eu levei de arrastão

toda a dor que não doeu e a dor que doeu, então,

de repente, não sei como foi, no caminho

desceu como milagre o céu ! Era o carinho

trasformado em mulher... E a noite fez_ se dia!

Era Deus sacudindo os sinos da alegria !

E, hoje, neste amor ao ver o amor que me dás,

meu amor, teu amor é mais que amor: é paz!

É paz de um lago em paz, onde um cisne flutua,

ao ver no céu nadar um outro cisne _ a lua!

Meus versos serão teus e, aos teus olhos, dispersos

em flores cairão Primavera de versos!

A noite é uma sonata e tudo sonha em mim...

Há um piano rabiscando a noite de nanquim...

Tudo dorme esquecido: a casa, o sonho, o mundo...

E dormes em silêncio em meu amor fecundo!...

Italo Zailu
Enviado por Italo Zailu em 24/06/2009
Código do texto: T1664342