AMÉLIA E LEOPOLDO
Grade de metal,
Meia lua, coisa e tal - fragmentos.
Olhos vidrados, braços atentos.
Gato, caleidoscópio, trampolim.
Na cadeia é tudo assim.
Amargo, doce, gotas lacrimejadas,
Algemas, bóias, gibis.
Luz, meia luz, quem é que diz.
Bocas sem pasta, sorriso, dentes.
Papel, política, preço, pentes.
Filme de sexo na quinta,
Parede sem nexo, nem tinta,
Poder, cheiros, medos,
Visitas cheias de dedos.
Mas Amélia era diferente,
Rebolado, decote, estridente,
Tatuagem rondando o ventre.
Vestia vermelho,
Na boca, trazia aparelho,
Amiga de poucos, se dizia.
Séria, vagarosa, cheia de maresia.
Quarenta e uns, trinta e poucos?
Dona de prole com homens loucos.
Não desistia, e no horário...lá ia.
Flertava Seu Leopoldo,
Trazia fubá e chá de boldo,
Falava que logo gostou do nome.
Léo, meu Léo! Quem queria sobrenome?
Latrocínio, e ela nem aí pros danos,
Beijos, carícias, embaixo dos panos,
Cabelos em trancos, trocavam de lado,
Mechas de sol, tudo enamorado.
Mas Leopoldo, homem decidido,
Só vivia para o próprio umbigo,
Ali era James Bond, de bigode e cavanhaque.
Trocava comida, por truco e conhaque,
Pagode, Zeca, suor e coisa pura,
Na cabeça sem cabelos, lustrava a moldura.
Traía Amélia, e sua formosura,
Por Alaor,
seu agressor,
Amor bandido (acontecido)
No calor,
De um banho de sol.