Saudade Invasora

Não consegue esquecer
o momento onde tudo terminou.
Uma doença incurável,
a cena final a assombrar-lhe a memória,
a vontade de reconstrui-la.
A ilusão querendo apagar,
a realidade recriando-a
de acordo com os seus desejos.
Mas não adianta,
o fato está consumado,
a trama está escrita,
não aceita arroubos da imaginação. 
As causas e efeitos estão definidos.
Neste querer insensato,
prenúncios de uma neurose.
Fica ali parado,
entregue a seu abandono;
fica porque quer ficar,
por não sentir disposição para lutar.
Fica entregue
à imagem da bela que saiu pela porta,
deixando seu corpo encantador
como que emoldurado pelo batente,
como se fosse um quadro estático.
Revelando-se com uma velha fotografia
que guardou a imagem de orgulhos inúteis,
onde juras de paixão verteram-se
em promessas de nunca mais voltar.
Onde, no esforço de subjugarem-se,
acabaram por se agredir,
aconselhados pelas vozes
ocultas do ciúme.
Cultivando sementes 
de mágoa e rancor,
para depois verem nascer a árvore
com seus amargos frutos.
Reclamando pela felicidade,
mas somente sabendo construir
o árido e pedregoso caminho da tristeza.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 22/06/2009
Reeditado em 22/06/2009
Código do texto: T1662170
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