Lá fora de minha janela

Lá fora de minha janela

A paisagem fora de minha janela é muito bela

Para o lado direito ficam as casas sem reboco da favela

Para o lado esquerdo a subida para o motel

E o supermercado mais caro das redondezas.

E em frente uma pedreira abandonada

Dizem meus pais que lá se encontravam

E minhas tias ainda pequenas desciam o morro as carreiras

E há menos de vinte metros as pistas asfaltadas

Cheias de carros, cheias de gente, cheias de destinos.

O que não aguento é ver fora de minha janela

Este ritmo cada vez mais intenso

Que é o pulsar do nosso dia-a-dia

E também quando atravesso o asfalto

Os rostos cheios de sofrimento

São seres humanos que tentam se encaixar

Como pedras nos blocos de cimento

São almas neste recanto a procura de crescimento.

Um pouco além desta paisagem atrás do morro

Vibra outro coração

Que bate como o meu num ritmo intenso

Como gostaria que tivesse o mesmo ritmo que o meu

Tão violento.

Tão forte como uma bomba que pode explodir a qualquer

Momento

Este sentimento forte, esta vibração,

Só pode ser uma grande paixão

Desde nosso último abraço meu corpo não aceita outra coberta

Apesar de Ter recebido outras ofertas

Minha pele se aqueceu com teu calor

E meu corpo vibrou com seu jeito, seu amor.

Além de minha paisagem da janela tão bela

Tenho o instante seguinte a me esperar

É tão triste amar aos pedaços

Entre noites mal dormidas, conversas ao telefone

Passeios nos bares, nas esquinas

Caríciar rápidas, beijos sem lábios.

Há os seres que não sentem suas almas

Há os seres que são pedações e carne animados

Há os seres que são os enviados, os iluminados,

Todos passam pelo mundo repletos de desejos,

Sonhos e fantasias.

Às vezes oouço a música do tempo

Penso que é o trabalho do vento

Que joga as folhas secas do outono de lá para cá

Que lá nas alturas empurra as nuvens

Que podem ser gotas de chuva

Ou apenas ventos mais frios

Penso no orvalho que cai durante a noite

Deixando suas pequenas gotas no seio da escuridão

Como o murmúrio da foice

Cortando a mata virgem,estracçalhando o matagal

Minhas lágrimas não posso derramar

Caem no seio de minha alma

Que sente-se cortada, dilacerada

Em suas partes mais profundas

Reclamando seu abandono

Ansiando você em minhas entranhas.