ESTRANHO AMOR ( Escrito para a Ciranda aberta pela Maysa)
De onde vem este menino
Neste rosto tão maduro
De quem viveu muitos mundos
De quem renasceu mil vezes
Por isso trás estas conchas
Estas areias e algas
De praias que não conheço
Senão nos sonhos mais fundos
Esses dos quais não se lembra
Mas se guarda que sonhamos
Em algum lugar das veias
Dos nossos desaguadouros.
Menino do nosso passado
Nascido antes
De todos os que se seguiram
Que já trazia no âmago
a sua estrela-criança
Que nenhum de nós dois sabia
Ou fazíamos de conta
Que nenhum de nós dois sabia
Para proteger-nos a ambos
De seu brilho
Do seu ofuscamento.
Menino do nosso passado
Vindo agora
Quando já não se sonhava mais nada
Quando mais nada
Já se queria sonhar.
Menino em hora tardia
Em hora virgem
Assustadora, de virgem.
Menino nos teus grisalhos cabelos
Menino desta senhora
Menino desta menina
Que mal se ousa
Menino, vem agora
E trás de volta
O verde das florestas antigas
Esta terra ancestral das árvores
A profundidade dos lagos
O fogo que queima e purifica
Os pássaros dos céus mais fundos.
O perdão, menino,
Nas tuas mãos nos traga
O perdão de todos a quem ferimos.
A vida de novo, menino.
Poema gerado hoje, num jato, de manhã ou no começo da tarde, não lembro bem, para a Ciranda aberta pela Maysa. Aqui, neste momento, com uma ou outra alteração.
Zuleika dos Reis
São Paulo, 17 de junho de 2009.