A CAÇA E A LOBA (Nossa fome agradece) - Retrô
Na penumbra de sua solitária noite;
Ela me encanta qual sereia e me provoca com seus uivos;
E passeia nua, pedindo que meu cobertor lhe acoite;
Prometendo temporais de libido em meus horizontes ruivos!
Ela fareja o paladar da minha extrema volúpia;
De sua boca glutã brota a sede pelas fontes de minha juventude;
Foge da minha cilada e destemida me caça por sua rota dúbia;
Uma lôba predadora, mirando-me qual presa de sua atitude!
Jamais me deparei com tamanha fartura;
Nem as tâmaras e amoras são comparáveis ao seu vinho;
Nem as taças da plena embriaguez legaram-me semelhante tontura;
Como ave do inverno fugitiva, deleitei a minha sanha no seu ninho!
Ela é a diva das manhãs e já foi musa de incontáveis primaveras;
Quem mora em seu cardápio ignora o que seja a míngua;
A audácia de seu olhar despedaça mais que o ataque de dez feras;
As fontes das matas virgens invejam os percursos de sua língua!
Sejam sagradas essas horas formadas de minutos profanos;
Que a sorte me faça vítima de sua impetuosa caça;
Seus uivos dedilham delírios que remetem à emoção dos tangos;
Nem mesmo o passeio das ninfetas desfila tamanha graça!!!