Direito à Impropriedade

Hoje eu conheci uma muito mal colocada esquina

De uma recém inaugurada avenida menina.

Também fiz amizade com um mal-nascido buraquinho

Que a chuva fez no já grisalho, mas ainda jovem concreto

Tornando abstrata a grama; as formigas e o verde campinho

De onde os miúdos fugiram cabisbaixos e todos inquietos

Porque a calçada quente queimava os seus descalços pés

“Até ela era calçada”, pensativavam as bases sobre seu revés,

Elas que viviam tendo a infância assassinada pelos vizinhos

Insuportáveis por não suportarem o passaredo infantil

Cantando seus cantos de “goooool” e “Foi por fora!”

Porque entregaram as suas vidas para as horas

Dos relógios que não despertam para a inconsciência

Que só é Coletiva porque agrega indivíduos egoístas.

Os mesmos que criam os desiguais pela ausência

De sensibilidade e se enclausuram no direito à impropriedade

De darem mais valor ao que não vale uma gota de inocência.

Mas, voltando a ele, na verdade era um poliburaquinho

Feito por pingos de chuva torrencialmente chorada

Por uma rapunzel, moradora nova, de história velha

Que foi salva pelas lágrimas que se suicidaram por ela.

No fim saiu barato indenizar aos donos da nova calçada

Pelos prejuízos dos furinhos liquidamente causados

Pelo Amigo poliburaquinho que teve a família toda enterrada

E subjetivada também, como os calçados daqueles deschilenados

Que seguem de estômagos esburacados e acabam no concreto “armados”.

Aldo Urruth
Enviado por Aldo Urruth em 13/06/2009
Reeditado em 13/06/2009
Código do texto: T1646444
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