Direito à Impropriedade
Hoje eu conheci uma muito mal colocada esquina
De uma recém inaugurada avenida menina.
Também fiz amizade com um mal-nascido buraquinho
Que a chuva fez no já grisalho, mas ainda jovem concreto
Tornando abstrata a grama; as formigas e o verde campinho
De onde os miúdos fugiram cabisbaixos e todos inquietos
Porque a calçada quente queimava os seus descalços pés
“Até ela era calçada”, pensativavam as bases sobre seu revés,
Elas que viviam tendo a infância assassinada pelos vizinhos
Insuportáveis por não suportarem o passaredo infantil
Cantando seus cantos de “goooool” e “Foi por fora!”
Porque entregaram as suas vidas para as horas
Dos relógios que não despertam para a inconsciência
Que só é Coletiva porque agrega indivíduos egoístas.
Os mesmos que criam os desiguais pela ausência
De sensibilidade e se enclausuram no direito à impropriedade
De darem mais valor ao que não vale uma gota de inocência.
Mas, voltando a ele, na verdade era um poliburaquinho
Feito por pingos de chuva torrencialmente chorada
Por uma rapunzel, moradora nova, de história velha
Que foi salva pelas lágrimas que se suicidaram por ela.
No fim saiu barato indenizar aos donos da nova calçada
Pelos prejuízos dos furinhos liquidamente causados
Pelo Amigo poliburaquinho que teve a família toda enterrada
E subjetivada também, como os calçados daqueles deschilenados
Que seguem de estômagos esburacados e acabam no concreto “armados”.