Para a minha mulher
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Daria tudo para tornar-me a água que agora,
sem pressa, banha teu corpo desnudo...
Água caindo ao sabor da gravidade.
À limpidez da tua tez, pele de maldade,
dedicar-me-ia em profunda aresta,
punindo erros e gritando a toda hora:
Feminina, feminilidade, minha fêmea voraz!
És genuína e tens em ti a maldade
revigorada no meu grito de enlevado homem.
Que a água evapore toda em mim;
que meu pulular seja pura sedução:
da vida e da alma que não toco, não.
Existe busca entre dedos, todos os meus.
Eles imploram, desejosos, tocar o corpo teu...
Delírio? Não! Desejo poético que nasceu.
Água benigna que enfeita a vida plena;
que estreita a dor pujante do artífice que sou eu.
Põe-me nos olhos a luz da tua meiguice.
O banho acabou e o pano se move entre pelos,
Imiscuindo-se com extremada sede que hipnotiza,
deixando-me entre a lucidez e o desvario dos dedos.
Singrei mundos e a ilusão se fez tangível.
Alcei voo e aqui estou no fulgurante dirigível
da fragilidade do homem pleno e só, apesar da comunhão.
Sei que da vida o que seremos é fino pó;
que os dissabores da ida, que em cada nó,
reverbera a frieza do calor duma guarida.
Entrementes, agora, o que me motiva
É tornar-me pano, rasgando a veste renhida,
Revelando-me para o que chamo de paraíso meu!
Crato-CE, 10 de junho de 2009.
21h57min
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