Vai longe o tempo... Tão longe...

Longe vai o tempo

Em que meus olhos

Corriam livres

Pelas paisagens do meu pampa...

Longe vai o tempo

Em que eu esperava

O meu bem-querer

À sombra das Acácias

Em flor...

Longe vai o tempo em que meus sonhos livres

Percorriam campinas e bosques

E adentravam em velhas casas

Do século dezenove,

Procurando aquele

Que, em mim, despertou o amor,

E fez com que eu desabrochasse

De botão, em flor...

Longe vão os dias calmos

E os tempos felizes

Em que a maior angústia

Era aguardar uma carta

Que vinha para mim

Em envelopes azuis...

Longe vai o tempo

Em que eu tecia sonhos

Com esmeraldas, pérolas, brilhantes,

Rubis vermelhos como a paixão...

Longe vai o tempo...

Teci meus véus com estranhas teias

E as filigranas de ouro perderam-se

Em sua suavidade e delicadeza

Emaranhadas nos nós que a realidade trouxe

Nestes tristes anos...

Longe vai o tempo da alegria:

Hoje o tempo é pura nostalgia

E escravidão...

Da suavidade da flor,

Ficou, talvez, um pouco de perfume...

O mais são retalhos,

São frangalhos,

Que não tenho mais como unir...

Nem remendar...

O tempo e a vida

São como apostas

Em um jogo cruel...

Mas... Mesmo assim,

As mãos que teceram meus sonhos em véus,

Rebordados com as mais belas pedrarias da inocência,

E as filigranas em ouro,

São as mesmas mãos,

(- Embora trêmulas!)

Que hoje vem o sonho desfeito

E a vida despedaçar-se

Sem ter chegado ao cume da montanha...

- Mas são as mesmas mãos!...

Que ainda têm forças para agarrar-se às pedras

Dos desfiladeiros

E caminhos

À sua frente,

De cabeça erguida,

À espera de um milagre...

Estas mãos que secaram lágrimas

E esconderam tristezas,

Essas mãos que sobre o pranto

Colocaram a máscara da alegria,

Ainda são as mesmas mãos...

Ainda são Esperança à luz do dia,

Ainda se podem pôr em oração...

E assim ficarão, postas em prece,

Vivendo de Esperança

E de lembranças

Até o fim de todos os seus dias...

Até que venha o tempo

Em que, livres,

Meus olhos voltem a correr ligeiro pelos pampas

Da querência onde nasci,

À espera do bem-amado

Na sombra das Acácias em flor,

Onde realmente

Vivi...

ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 10/06/2009
Código do texto: T1642084
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