Meu pedaço de chão

Como se fosse feito da própria terra

Como se fosse a raiz de um planta

Como se fosse uma árvore plantada

Numa terra seca e que mesmo assim

Dependesse dela para sobreviver!

Este é o legado do povo embrenhado

Do mato

Povo que desfruta padecendo,

Que morre vivendo

De que o sol aquece

E do que a água sacia.

Povo que cavalga com destino

Sem destino

De um coração aguerrido

De um corpo sofrido

E sem inspiração

Seres que dormem com

A lua e acordam com as estrelas

Que se sustentam com

O pó de seu rosto

E que se vestem com

Bens de geração em geração

Pessoas que proseiam com

Seu animais

e que os tratam como os tais

Tivessem sabedoria a mais

Para sua população

Indivíduos que travam batalhas

Com sua natureza

Fazendo com que a beleza

Seja mera frescura

E que sua agrura

Seja sua satisfação.

Povo que senti

Sem sentir

Que se levanta do chão

Como se fosse cair

Que se encontra com a felicidade

Como fosse fugir

Criaturas que lutam

E apenas lutam

Que evitam pensar

Pois pensar

Atrasa a viagem

Entes que agem e não meditam

Que espiram e não respiram

Que mostram e não ensinam

Que gemem e não choram

Homens que esquecem a aflição

Mas dão valor a união

E que união

Daí sua força

Sua alimentação

Objetos que produzem vapor

E que seu teor

É a manipulação

Onde a saúde não

É um princípio

E quando a praga

Parece visível

Seu patrão é o combustível

Elemento sem noção

Quando parece brabo

Suspende seu fardo

Arreia o rabo

Em sinal de prostração.

Dominados e esquecidos

Mutilados pelo tempo

Enfraquecidos pelo juízo

Enterrados vento

Povo que não bate

Mas apanha

E apanha com corda

De cacimba

Gente curvada

Para o regresso

Com a mente em excesso

Pensando num progresso

De uma plantação

Gentalha sábia

Cresce em demografia

Como se seus pensamentos

Estivessem corretos

Numa vã filosofia

Arraia-miúda de alegria barata

Onde o grão de terra compra

E o chicote protege

Se dá valor a sombra

Que esfria a cabeça

Alimenta a alma

E revigora o corpo cansado

Povo que conta

E desconta

Aumenta e inventa

Fala, cala e consente

A história de

uma terra fulgente

Aqui eles dão valor

As palmeiras

Ao canto e ao sabiá

Que no final do dia

Na lenha gorjeara

Não existem frases

Pois quem lê é a viola

Ressonando quem outrora

Lutou pela vitória

Pessoas da casinha de barro e sapé

Queres saber quem é?

Pessoas que trabalham o mato

De pés descalços

com o rosto molhado

e um grão de feijão

Gente que mal sabe a cor

Da nota do real

E seu poder exorbital

Mas que o dinheiro

E o seu mal

Nunca vão ver

Populacho simples

Com mãos sujas de fumo

De dedos escuros

E paz no coração

Coração que enxerga

Cega seus próprios olhos

Vê o que não precisa

E se esconde do que vê.

Povo daquele vale

Que exatamente as cinco da tarde

Olha para o monte

Repleta de verde

Como se em algum dia

Esquecera algo lá

Montanhas que sempre

De alguma forma

Nos desperta a curiosidade

De saber o que há

Por trás de suas terras

Este é o meu povo

Que nasceu neste chão

Símbolo de minha terra

Nascente desta nação.