Sem Título (Bancário)
O meu medo de sorrir sem ter você como espelho
Deixei, meu bem, tudo em débito, em vermelho
Aquele dia em que, bem juntos, nos amamos no cinema
Enquanto todos ali sorriam, eu enfrentava o meu problema.
Todas as contas que eu devo, de sonhos e saudade
Quitei com juros e, de pena, dei dez por cento por vontade
E aí? Cobrar o que de quem te ama de verdade?
Eu te prometo, é zero a zero, este é o esquema!
Juros sobre juros eu me perdi nessa dívida de amor
Mas vi que a vida é desafio e hoje eu faço piadas de terror
Já pensou, meu bem, a cada tombo chorar e pedir perdão?
Mesmo que, como antes, por outra, sacrificar meu coração.
Até minha vida que dei, com gosto, de garantia
Eu fui buscar, fechei negócio, comprei de volta meus dias
Deixei tua rua, onde não passo, não cato mais as folhas
Momento é outro, andar descalço e estourar bolhas.
Eu fiz até uma canção, coisa que nem levo jeito
Mas fiz por bem, eu nunca quis mesmo nada perfeito
De troco eu quero o poema que outro dia eu fiz de coração
Que essa moeda, pra um poeta, vale superação.
E então? Como é que fica a relação com os terceiros?
Mande as dívidas, eu acerto, e vou pra outro meio
Algo que dê não mais dinheiro, mas alegria ao acordar
Com o coração já pronto pra, por mais um dia, ir sorrindo trabalhar.
Deixei de crédito um presente que eu espero que curta
Se bem que ele, por si só, é uma coisa tão fajuta
Esqueci tudo, fechei a conta e fui atrás de outro sócio:
Um coração que entenda mais sobre amor e negócios!