Discussão
- Destino - dizia eu.
E o cético, muito cético retrucava: - destino nada.
Isso é palpite seu. Destino é crendice, pretexto dos fracos.
- Mas então, como explicar os fatos?
O encontro não marcado? Os gestos velados?
Os olhares descuidados?
- Obra do acaso, da sorte. Assim como a vida.
Assim como a morte.
- E os sorrisos, os risos? E o tempo que passava estranho?
Explica agora! Cético dos infernos! Explica porque não
esqueci aqueles olhos, quando tantos olhos eu vi.
Explica porque não esqueci aquele rosto, porque imaginei
um gosto e esqueci todos que já senti.
Explica porque essa saudade sem fim? Explica porque
com tanta distância, ainda sinto tudo tão perto de mim?
E o cético, vencido, responde enfim: - Não sei.
Só sei que é bom que seja assim.