RÉQUIEM do COMÉRCIO

Conhecia o comércio

tinha o corpo de macho marcado pelos carinhos de almas desesperadas de solidão.

O desejo de liberdade era irreal,

como irreal era a linguagem de mito no auge do caos político.

Ao submundo agradecia o desprezo das mulheres,

nunca o amor fez bem ao lado de homem,

o amor foi o castigo por negar a mulher,

e o abandono o flagelo da lucidez.

A política um videoclip para calhordas.

II

Morrem de tédio reis nos castelos de areia do deleite carnal

e a chave da multidão-soberana no anonimato

é a riqueza do futuro.

Quasimodos galanteiam megeras na escadaria da catedral do crime,

as máscaras dos hipócritas rolam nas ruas desertas dum domingo chuvoso.

III

O equilíbrio era o repouso da fúria,

a carência deixando de quatro sob a sofreguidão do Poente,

terrível o encantamento que revela a diferença

diferença: o princípio!

cavalos derrapam nas lágrimas

a noite revelou identidades

no lado grotesco do submundo dos prazeres

onde desastres espreitam motoristas

assustados pela aparição da lua

(onde cabeças degoladas criam raízes e dão flores pelas bocas)

IV

A mulher o corrompeu. Agora ele busca a destruição.

Reduzido à indigência, despojou-se da moral

e descobriu a natureza: imprestável.

Foi sempre o covarde – o desejo a derrota da condição.

Galopou entre deuses apenas para sentir a demência dos impotentes

A demência (a dama dos inoportunos e dos tímidos).

Tornou-se pessimista tornou-se imundo.

Assim como os cépticos vivem a miséria da hipocrisia,

fracos fazem do brilho a lama da estupidez,

incapazes de viver o amor da tragédia.

A mulher o ócio o drama das noites vazias.

O que nele é repulsa, a cínica tranqüilidade

é apenas o sintoma de uma derrota.

O que nele é podre, é a sede de poder que asfixia no silêncio.

A paixão redime-lhe a glória, exercida no amor cujo massacre é o vazio