No dedilhar do piano toco o Amor...
No dedilhar do piano acordo as cordas...
Destas, saem tristes melodias,
Pungentes na saudade que as cria...
Escalas Maiores e Menores
Assombram-se com minhas nostalgias,
E em trinado, solto os sons melhores
Que o tempo não tirou das sinfonias...
- Não quero mais minuetos eu tocar!...
Detenho-me nas minhas Elegias...
O máximo de sons que vou tirar
Não passam de Acalantos, noites frias...
A minha música enche meu lugar
E me acompanha em tristes maresias...
Quero a Dança do Fogo, de De Falla!*
Mas apenas me vem tristes harmonias...
Das Árias que cantei, não mais me lembro!
Das canções doces de amor, eu esqueci...
Talvez ainda me lembre de "Mimi"**
Mas minha vida é bem mais a "Butterfly"...***
Na longa espera da vida que se esvai...
Penso, que talvez, somente a dor,
Escreva e inspire as canções de amor
Que o Tempo não apaga da lembrança...
Sinto saudade dos tempos de criança
Onde a mãe cantava, fazendo-me a trança
Nos cabelos negros: era a vida em flor...
Hoje tudo terminou... Só há saudade
Neste inverno que chegou mais cedo
E me roubou toda a felicidade...
Fecho o piano, não quero mais tocar!...
Cerro bem meus lábios, para não mais cantar!...
- Sons?... Só o das lágrimas... rolar...
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Nota da Autora:
• * Alusão à Música “Dança Ritual do Fogo” da autoria do compositor Manuel De Falla.
• **MIMI: refere-se à ária “Mi chiamano Mimi", da Ópera “La Bohéme”, da autoria do compositor Giacomo Puccini, por mim cantada quando fiz o Curso Superior de Canto.
• *** BUTTERFLY: alusão à ária “Um bel di vedremo”, da ópera “Madama Butterfly” do mesmo compositor, cantada por mim no último semestre do Curso Superior de Canto.