Morenas

Os cabelos negros

Eram assim tão negros,

De tanta perfeição

Que, ao sol de prata,

Eram espelho.

Algo inexoravelmente distinto.

Impossível a qualquer soneto,

Marcado, regrado, tão friamente formulado,

Retratar o reflexo reluzente da imagem

Era errado; tentar domar o selvagem

Tornar controlado...

Era provocar numa tempestade

Estiagem.

E sem sucesso

Continuar errado.

E ainda lá há a imagem

Esperando ser filtrada,

Absorvida por completo.

Numa esperança utópica

Anseia instintivamente ser amada,

Mas não trancafiada.

Aguarda ser sintetizada

Antes que a própria síntese se torne a síntese

De fios pretos,

Pratas

Ao sol

E negros

Aos olhos d’um poeta.

Eduardo F F de Abreu
Enviado por Eduardo F F de Abreu em 22/05/2009
Código do texto: T1608980
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