Morenas
Os cabelos negros
Eram assim tão negros,
De tanta perfeição
Que, ao sol de prata,
Eram espelho.
Algo inexoravelmente distinto.
Impossível a qualquer soneto,
Marcado, regrado, tão friamente formulado,
Retratar o reflexo reluzente da imagem
Era errado; tentar domar o selvagem
Tornar controlado...
Era provocar numa tempestade
Estiagem.
E sem sucesso
Continuar errado.
E ainda lá há a imagem
Esperando ser filtrada,
Absorvida por completo.
Numa esperança utópica
Anseia instintivamente ser amada,
Mas não trancafiada.
Aguarda ser sintetizada
Antes que a própria síntese se torne a síntese
De fios pretos,
Pratas
Ao sol
E negros
Aos olhos d’um poeta.