Poema 0696 - Onde está o eleito
Onde está a esperança que quebrou no dia da posse?
Recriou o frio, fez raio e tempestade, soltou rojão,
a sorte que tinha mão, tinha pé, tinha dono,
misturou o quente no gelo e sujou a eleição.
Onde está o rosto com o sorriso branco?
Minha voz foi abafada com a dança da moça.
prometeu tirar a fome, dar remédio,
vi foi menino correndo pra ganhar liberdade à força.
Onde está a moral que fica atrás do muro do palácio?
A promessa do mais emprego, do mais pão,
a escrita que o eleitor deixou na porta do banheiro,
as armas trocadas por um qualquer tostão.
Onde está toda aquela prosa do ''eu faço''?
Valeu mais uma vez a lição, me chama de otário,
joga fora a vergonha, pode caçar minha identidade,
foi autor da história pra depois rasgar o inventário.
Não nasci miserável, me fizeram no meio do caminho,
mediram as frestas que cabia o voto forte como aço,
o coitado o elegeu acreditando na palavra dita,
o homem foi eleito, o povo não, apenas palhaço.
Quero confiar no meu silêncio, é a única verdade,
prossegue a promessa, a covardia, diz que não mente,
o barulho que canta de terno e gravata não vale nada,
não acredito que é inocente o desleal sem ética presidente.
Posso escrever minhas prosas sem mentira, sem o sim,
a esperança acabou, o dinheiro, o dia, os versos, até a mão,
amanhã vou escrever não, no muro, na porta do palácio,
pra não faltar carne, pra menino escola não faltar não.
22/05/2006