O Poder das Palavras
 
E então, o que dizer a você?
O que escutar de tua boca,
já que as palavras são vivas
e podem acariciar ou ferir?
 
Esclarecer não é discutir,
não é uma disputa de quem está certo,
não se trata de um combate
onde o vencedor é indiferente ao vencido.
 
Não é o punhal que fere o peito do amante,
mas a palavra, eis flecha certeira ao alvo.
E como pode haver felicidade no ferir,
como pode se conquistar o derrotado?
 
Qual o sorriso que recompõe as lágrimas?
Qual carícia ameniza a navalha dos versos?
Como pode conviver mágoa com arrependimento?
Ou, talvez, a vingança com o pedido de desculpas?
 
Difícil colar os cacos do vaso de cristal,
inútil tentar retirar a marca do prego da madeira.
O feito estará sempre realizado,
somente um novo fazer há de redimir.
 
Qual o limite entre a paixão possessiva
e o ódio repulsivo?
Do desejo de proteger o objeto do afeto,
com o impulso de destruir o alvo renegado?
 
Qual o número de palavras necessárias
para gerar um mal entendido?
Sejam quantas forem, será menos
do que as necessárias para o reencontro.
 
E, então, melhor respeitar a força do silêncio,
melhor não brincar com o poder das letras.
Melhor fechar os lábios enquanto é tempo,
não deixar o botão virar flor antes do momento.
 
Pois que engane a si e ao mundo,
seus olhos acabarão por lhe denunciar,
E não terá, então, um olhar, mas um rosto,
um escudo facial de um coração reprimido.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 18/05/2009
Código do texto: T1601705
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