Sobrevivente do Amor
 
 
Sua presença me ensinou as ilusões.
E com o iludir toquei de leve na felicidade,
mas também me fiz amante da tristeza,
que me presenteou com uma mágoa no coração.
 
Seu ser me fez descobrir o todo de mim,
para depois me fazer ver os meus pedaços,
os cacos de mim mesmo, fragmentos de emoções,
minúsculos cacos do mais fino dos cristais.
 
Foram seus olhos o lume que despertou os meus,
Mas foram eles os posseiros de falsas promessas.
Foi seu sorriso o encanto que tingiu meu mundo,
mas foi no espelho de sua face que vi minha fúria.
 
Fúria fria, de um coração aquecido em chamas vulcânicas.
E a doçura se fez estanque, e o abraço se fez escudo.
E do afeto que me fazia vulnerável dissipei de forma viril.
E me irritando pela falta de lealdade, lhe desprezei.
 
Desprezando, assim, o próprio convite a dias mais felizes,
me escravizando a um presente que logo se fez passado,
mas que roubou-me partes de minhas esperanças futuras.
De modo que pouco há por se dizer, não vale a pena.
 
Melhor pactuar com as horas, pedir armistício ao tempo.
Procurar suavizar os impulsos do coração selvagem.
Não aceitar as lágrimas, mas recusar ideias tolas.
Confiar que dias melhores haverão de vir.
 
E então me calmar, e concluir que a mulher é algo além,
não está no ser, não está unicamente na criatura,
mas é antes um complexo unir de essências.
De modo que a dor não pode ser tanta...
 
E então dominar a ilusão, e me iludir
no fluir encantado da brisa que acaricia a face,
da noite com seu luar e céu tingido de estrelas,
assim no vazio se faz pleno, imita felicidade.
 
E a ausência deixa de se fazer presente.
E se sabendo só, sabe que tem a si.
Sabe isto ser insuficiente, mas sabe necessário.
E que se deve amar-se, para poder amar a outrem. 
 
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 17/05/2009
Reeditado em 19/05/2009
Código do texto: T1599808
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