A Música do Amor
 
Uma música ecoou, soou muito além,
tocou as íntimas fibras da alma.
O ouvido apenas fingiu ouvir,
foi apenas meio, sons de lembranças...
 
Músicas que acompanharam momentos
ganharam significação, já não existem em si,
mas provocam emoções particulares,
acabaram como que subjetivadas no coração.
 
Ontem o dia desfaleceu no cair da tarde,
tomou a noite por amante e beijou sua boca.
Tomou-a como se seu corpo fosse todo dele,
E a envolveu em amplexo masculino.
 
Tirou-a para dançar, num passo só de ambos,
num jogo de sedução, numa trilha a dois,
divididos nas trocas de olhares,
completamente inteiros em seus seres. 
 
Perdidos na noite, cobertos pela seda da madrugada,
brincando com as vertiges, rindo dos delírios,
bebendo copos e copos de suaves ilusões,
trocando sonhos no afã da tez arrepiada.
 
E não homem ou mulher, apenas seres que se querem,
que se suprem no desejo, que nada almejam senão a si.
E num universo de tantas coisas, tão pouco se faz tanto.
Os lábios dizem, murmuram palavras que se perdem.
 
E pouco importam as palavras, vale a intenção.
O desejo as recria, dando-lhes encanto juvenil.
E se é feliz por um único instante,
mas quanto não vale este momento pela vida...
 
E as músicas vão cobrindo os ouvidos,
os momentos são gravados em notas musicais
e estas haverão de se traduzir em letras,
em versos de poesia aquecida no calor do coração.
 
E a lua irá, e as estrelas, sonolentas, dormirão.
E majestoso, o sol haverá de surgir com a aurora,
e a brisa fria da noite receberá o calor das luzes.
Nesse limiar, azuis que se vão e laranjas que nascem.
 
O horário será desprezado, o momento estará gravado.
A memória haverá de avisar os sentimentos.
E as ausências produzirão saudade, do real e do irreal,
pois que o prazer estará na força onírica dessas horas.
 
Da tarde para a noite que mergulhou na madrugada,
que prosseguiu, lentamente, a fugir das horas,
que despertou na aurora já com saudade do crepúsculo,
que trouxe à realidade quem apenas vivia em sonho.
 
Música suave, notas em versos.
E o tempo gravando, um momento eterno...
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 17/05/2009
Reeditado em 29/06/2009
Código do texto: T1599767
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