Sandices de um grande amor...
Às vezes se oferece flores
Desnudas, nuas de espinhos,
Sem proteção em confiança,
E cercadas de carinhos...
Às vezes se oferece a vida
Com Paz, união, comunhão
E se faz tudo para ser feliz;
E a quem se oferta, nega-nos a mão...
Então eu penso: vale à pena amar?
Quando é unilateral a doação?...
Não seria mais humano desistir
E ofertar a outro alguém esta paixão?...
Há neve dorida em meu coração...
Uma dor pungente e muito aflita...
A dúvida se instala; e a conquista
Foi apenas um brinquedo, uma ilusão?
Verdade? Mentira? Se nos dão indiferença,
Se não sacrificam algo por Amor,
Valerá a pena sentir tanto amargor
Quando outros nos acenam preferência?
Mas quem manda em um triste coração
Apaixonado, que, cego, nada vê?
Ou vê, mas mesmo vendo, assim não crê
Ser possível um defeito ao ser amado?
Até que ponto se vive um amor
Que é pelo outro, desdenhado?
Vale à pena sonhar com o amado
E ofertar-lhe a vida sem rancor?
Dia após dia, sofrer a sua ausência,
Esperar, “esperar, sofrer e amar”,*
Aguardar um retorno que não veio
E um sorriso no rosto colocar?...
É pedir demais ao ser humano...
Eu sou apenas e tão só uma mulher;
Rosto coberto, escondida nos meus panos,
Para que me venhas ver quando quiser...?!
Do amor a essência, é compreensão,
É um doar-se sem pedir satisfação...
E um nada ter... E mesmo assim querer!...
Vês? Eu sei que ainda me amas, mas por fim,
Que tanto faz o teu amor por mim?...
O que importa é que sejas mais feliz...
E eu, tão consciente, vou chorando
Fingindo que tenho tudo e nada recebi..
E muito dócil continuo te amando...
.....................................................
Nota: “Amar, sofrer e esperar” era a “missão das mulheres”, segundo a personagem Bibiana, uma das mulheres marcantes da eterna obra de Érico Veríssimo, “O TEMPO E O VENTO”, um dos maiores escritores do nosso Rio Grande do Sul.