QUANDO DE TI ME LEMBRO

Quanto de ti me lembro

A primeira coisa que me vem

É de como já faz tempo,

E como este tempo fez-me bem...

Atesto que não mais possuo

Aquele talento artista,

Delicado, meticuloso,

Para reconstruir em detalhes

Teu rosto no fundo negro

De meus cerrados olhos

Pois que está tudo claro

E, por hora, enxergo...

Teu semblante agora é arquitetado

Em extensas e densas nuvens

Em céu chuvioso e anuviado...

Mas, claro, existe sentimento

Quando de ti me lembro...

Ele é robusto, violento

Embora a biruta

Tenha mudado o norte

Da cabeça, do peito, e da boca,

Levando junto à outras paragens

Aquele alísio de morte...

E os sensos aumentam teus defeitos...

E não mais me vem,

De qualquer forma ou jeito,

Aqueles ótimos momentos

Que sei que houveram

E que se foram, corroendo lentos...

Ah... Quando de ti me lembro...

Vem ainda inteiro teu nome

Quando, ao largo, longe,

Vociferam os ventos...

Mas somente quando entoam

Sibilos cruéis de lamentos...

Sim, ainda de ti, lembro...

E bem relembro de mim

E de como não era eu mesmo,

Embora achasse que sim...

Quando, anulado, me fixava

Em teu suave andar bailarim...

Vá lá, certas imagens, o mínimo, reagem...

A contra-gosto, outrossim,

E até que destas me lembro bem...