ADEUS SEM DESPEDIDA

Acho que as lágrimas já foram demais
Desentoadas, evisceradas de tanto esperar
Fiquei à deriva de um amor que era fulgaz
Mas me pôs inerte, tolamente a acreditar

Hoje que estou vis-à-vis com meu medo
e que este indesejado féu me amarga sem pena
percebo a descrência de um pobre segredo
que nada mais era que um amor em gangrena

Não, não temas jamais que eu te odeie
ainda que me doa de um modo transgressor
não posso obstar que a tristeza me lanceie
ainda que eu mim viva sempre o mesmo amor

Eu abro mão de ti, por ser tão pouco
pra mim tu sempre esteves à ilharga
mas eu pra ti só era um peso morto
e tu não suportastes essa carga

Eu peço a Deus que te traga volta
quando não fores só meia metade
não deixarei que amor vire revolta
mas essa dor me assola de verdade

Não ligo que duvidem desse amor
no fundo sabes que ele é inconteste
todos podiam dizer ser só furor
só não queria que tu também o fizeste

Te amo assim, inconsequentemente
Não temas, pois jamais te abandono
mas algo em mim suplica, me repreende
pedindo que eu não seja mais meu dono

Eu deixo então que tu enfim me enxergues
mas não procure em mim o que desejas
então olhes pra dentro, ainda que negues
espero que este amor então tu vejas

Se isso acontecer, e sei que pode
há um mar chamado amor à nossa espera
não tenha pressa, mas não se acomode
que seja outro universo, uma outra era

eu vou em meu saveiro,
navego você em mim
respiro no ar o teu cheiro
desenho você em carmim

te tenho de longe, te protejo sem fim
até que tu alcance a nossa sorte.
O amor desconcertante que há em mim
encontrará em você o nosso norte...