SUGESTÃO

Taças.
Delicadas,
requintadas,
românticas,
embriagadoras.
Para champanha, como ela gosta.
Para conhaque, como ele gosta.
Aquelas eram um especial presente de Natal
que certamente lembrariam sempre bons momentos.
Um gostoso riso ao recebê-las.
Isto estava previsto.
Não muito surpreso.
Divertido.
Boa sugestão nas entrelinhas!
Caso, acabado talvez.
Sensualidade e ternura muito presentes.
Ele não ia perder a oportunidade talvez única, de tê-la mais uma vez.
Ela queria se embriagar, saciando sua própria sede de carinho
e sentir o prazer que lhe dava sua presença.
Chegaram.
Elegância, suavidade e atenção em todos os gestos dele.
Nela, receio, talvez mesmo, medo.
Encolhe-se no sofá.
Nem parece que já esteve tão à vontade naquele lugar.
Há um bloqueio feito de saudade, de mágoa, de paixão e de ressentimentos.
Vinho branco.
Sua bebida favorita.
Além de champanha, claro.
Ela vê tudo como espectadora, com os olhos ariscos de uma gata.
Muito quieta.
Ele parece não perceber nada.
Está entontecido de si.
Não precisa se preocupar.
Acha que ela sabe o que quer.

É calma , segura,
vai se deixar levar,
porque quer,
embalada por suas palavras,
pelo vinho,
pelo prazer do toque,
do seu perfume,
do seu cheiro.

Mas, vai num crescendo, em igual intensidade, desejo e agressividade.
Ela sente que precisa conter a avalanche que quase passa dos limites de sua consciência.
Precisa acordar.
É como se estivesse em transe.
Vê na sua mão a taça.
Cristal!
Atira-o com toda força contra a parede.
Ele riu.
Ela acordou.
Mais mágoa.
Mais dor.

“Estala coração de vidro pintado”.