Humanos Caixões

Não há melhor momento pra pensar na vida

Se o tempo deixar

Do que quando se transforma uma pessoa querida

Que estamos a velar.

Nos acomete um sentimento que dolore o coração

Memória remorsiva

É algo muito parecido com a amorosa paixão

Possessiva

Não lembramos de nenhum defeito do transformado

Amnésia seletiva

Cada um passou “com dez” por nunca ter errado

Para valorizar nosso choro

Somos assim porque nos ensinaram essa salvadora norma

De mentir em velórios

Para que viva a distorção da imagem do que se transforma

Nos nossos interfácios absolvitórios

Por que somos assim? Que amor é este que sentimos

Que mente deste jeito?

Por que teimamos em sepultar alguém que construímos

Hipócritamente perfeito

Em lugar daquele que viveu tão belamente defeituoso

Por que sem defeito o enterramos

Se humanamente nos amou num dia e no outro foi maldoso...

Não será porque maldosa e imperfeitamente o amamos?

Não há melhor momento na vida para pensar

Nas vidas que mal amamos

Do que esta chance que ela dá tão dolorida

De bem amar aos que não velamos

E transformar estes momentos de dolorosas paixões,

Tolerantemente nos aproximando,

Em Amor aos vivos, mortos em nós seus caixões,

Os quais em vida morremos sepultando....

Aldo Urruth
Enviado por Aldo Urruth em 14/05/2009
Código do texto: T1592891
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