Humanos Caixões
Não há melhor momento pra pensar na vida
Se o tempo deixar
Do que quando se transforma uma pessoa querida
Que estamos a velar.
Nos acomete um sentimento que dolore o coração
Memória remorsiva
É algo muito parecido com a amorosa paixão
Possessiva
Não lembramos de nenhum defeito do transformado
Amnésia seletiva
Cada um passou “com dez” por nunca ter errado
Para valorizar nosso choro
Somos assim porque nos ensinaram essa salvadora norma
De mentir em velórios
Para que viva a distorção da imagem do que se transforma
Nos nossos interfácios absolvitórios
Por que somos assim? Que amor é este que sentimos
Que mente deste jeito?
Por que teimamos em sepultar alguém que construímos
Hipócritamente perfeito
Em lugar daquele que viveu tão belamente defeituoso
Por que sem defeito o enterramos
Se humanamente nos amou num dia e no outro foi maldoso...
Não será porque maldosa e imperfeitamente o amamos?
Não há melhor momento na vida para pensar
Nas vidas que mal amamos
Do que esta chance que ela dá tão dolorida
De bem amar aos que não velamos
E transformar estes momentos de dolorosas paixões,
Tolerantemente nos aproximando,
Em Amor aos vivos, mortos em nós seus caixões,
Os quais em vida morremos sepultando....