AVE FERIDA... (escrita em 1969)
Uma ave sozinha,
Em revoada
Feliz,
Passou pela água
Molhou
A patinha
Pisou seu pezinho
Na pedra afiada
E saiu pela noite
Piando baixinho
A manquejar...
O sangue vermelho
Por si, gotejar...
Percorri as marcas deixadas pelo sangue
E depois de muito procurar,
Eu vi...
Senti que a avezinha
Na tarde mansinha
Azul, ‘solarada
Chorava e escondia
Dentro de si
Uma essência de pedra,
Um frio que era ruim,
Uma dor que era imensa.
(Sangrava mais seu coração
Do que a patinha, pisada de raspão!...)
Na calma da vida
Segura guarida
Inda não encontrou...
Não acha pousada,
Nem quem cure a ferida
Do seu coração...
- Não chores, que o tempo
Que vem com o vento,
Traz canto de amor!
Primavera vem perto
E quando chegar
Te trará de presente
Um sonho, azulzinho,
Que te irá encantar...
Eu consolei
A ave ferida...
- Mas... E quanto a mim?
Quem me irá consolar?...