AS TUAS CARTAS... (Poema escrito em 1969)
O perfume dos lilases
Já impregnou as tuas cartas...
E a caixinha em que as guardo
Está toda forrada de lilás...
As tuas cartas, lidas e relidas,
Tem a marca do meu choro:
Das lágrimas que as marcaram...
As tuas cartas são sempre atuais:
Jamais vão envelhecer
Como o amor que te dedico...
- Tu te lembras?...
Nós passeávamos na praça
Com muitas árvores belas;
E tinha um lago tranqüilo...
Peixes e outros animais
Por ali nadavam serenos...
Havia pedrinhas
Que enfeitavam nosso chão...
E reluziam
Quais “pedrinhas de brilhante...”
- Estas também não hão de envelhecer...
(...)
Acabo de ler tuas cartas outra vez
Em seus envelopes azuis...
Ah! Eu sinto um imenso vazio...
Eu as leio e as ouço em tua voz...
Eu tenho frio...
De vez em quando, parece que te vejo,
Sentado no banco
Feito de um tronco
De Acácia...
- E a sombra da Acácia Mimosa em flor
Nos envolvia
Como se nos unindo num imenso abraço...
Meus olhos procuravam os teus,
Sempre a sorrir!
Nossos olhos eram sempre sorridentes...
Nosso sonho era um só sorriso...
Nós estávamos juntos e sempre contentes...
Nossos olhos falavam de mil coisas
(E sonhavam outras mil...)
Os meus olhos comungavam com os teus
Numa inocência pueril...
Como era grande e puro
O nosso amor!...
- Era tão grande
Que a Vida ficou enciumada
E então nos separou...
Hoje não te escrevo mais poesias,
Só lamentos...
E não escrevo mais cartas para ti...
Elas iam perfumadas... Lembras-te?...
- Não! Certamente não te lembras mais de nada!...
- Estás com outra!...
E eu adoeci...
Nunca mais senti tuas mãos tal qual veludo
Acariciando o meu rosto...
Nunca mais seguraste minhas mãos
Para aquecê-las no frio...
Nunca mais minhas mãos tremeram,
Nem meu coração disparou saltitante,
Pois não mais te vi...
Na noite fria
Tu descias pela rua
Devagar...
Eu imaginava ver teu vulto, na sombra da noite,
E ficava procurando teus olhos da cor do luar...
- Mas eu te virei às costas
E como sofri!...
Mais do que tu:
- Sofri por mim e por ti...
Passei um mês no hospital
E saí no dia do teu aniversário...
- Quisera morrer...
O perfume dos lilases impregnou as tuas cartas...
Eu as guardei na caixinha forrada de lilás...
- Caminharei outra vez?...
Poderei outra vez ir correndo ao teu encalço?...
Receberei teu abraço?...
Não! Serei um peso para ti...
Voa livre e sê feliz...
Fecho meus olhos e vejo
A tua caligrafia firme
Em tuas cartas sem fim...
E as lendo,
Ouço-as em tua voz...
- Mas eu tudo perdi...
As cartas estão guardadas...
Mas, estranho,
O perfume dos lilases
Ainda permanece em minhas mãos...
E vai permanecer sempre
Assim como meu amor por ti
Permanecerá no meu coração...
- Futuro?... Haverá?...
Tão pouca idade e tanta desesperança,
Porque o amor da minha vida eu perdi...
- Há pouco inda eu era criança...
Agora, envelheci...
Não tenho nem vinte anos
E vivo só de lembranças...
- Penso que já morri...
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Nota da Autora: Neste período da minha vida tive um câncer e precisei fazer uma enorme cirurgia. Fiquei um mês no Hospital acamada. Depois fui para a cadeira de rodas; as muletas vieram em algum tempo; e um ano depois eu estava perfeitamente curada e reaprendi a caminhar normalmente. Minha cura eu creio ter sido um milagre, um milagre de Deus e um milagre do amor...