O PERFUME
Estava eu, no leito hospitalar, de mãos dadas com a incerteza,
Sorvendo alimento insípido, servido em boa bandeja,
De alumínio bem fundido;
Quando do amor lembrei-me;
E a amor ali estava, em sua plenitude,
Defronte a mim sorria, e de talher em punho;
Dizia: Coma é preciso!
Evocava-me o poeta português, que ao seu tempo dizia:
Viver não é preciso,
A Rosa de minha vida de agora, e de vidas de outrora,
Era minha mãe, sem que de seu ventre eu tenha vertido,
Afagava com ternura, o homem de corpo dorido,
Pela dor vencido,
E eu que só choro, se for a escondido,
Assim fiz, chorei; sem lagrimas ter expelido.
Gloria do amor!...
Ao meu derredor, em outros leitos,
Corpos entregues, amor; assim expandido:
Nas faces, de mães-esposas, com seus filhos cativos, a abraçar e rezar...
E este homem de pedra e sonhos, novamente chora,
Sem que dos olhos lagrimas, tenha visto,
E aqui, aonde a dor e a morte são parceiras,
Minha Rosa perfuma com cuidados e zelo
O quarto inteiro
E o amor, não esgueira, adentra altivo,
Sem temer barreiras.
Pois sabe que do espinheiro flora a rosa,
Minha rosa. Minha Rose.