A CHAVE
Poeta. Minha cidade, não é a mínima cidade, que meus olhos turvos viam,
Minha cidade é metrópole; destes tempos modernos...
Em minha cidade, poeta, nada há escondido.
Morte?... Temos!... Amiúde e alardeadas!
Favelas? Temos! Iguais a todas elas,
Requinte? Sim; e com que acinte,
Promessas! Sonhos esquecidos e renascidos a cada dia...
Sim poeta, na minha cidade, corre um rio... De vergonhas e lagrimas:
Águas lodosas, vertidas de corações espremidos pela angustia do não ter...
Ter! Com que ênfase; carecemos...
Poeta. No céu; (da minha cidade) Aves, nuvens e helicópteros,
Todos sob a égide de um sol que brilha para todos,
E no chão, da minha cidade, espaços são medidos,
E entregues com a justiça e a medida de mentes corrompidas,
E com que fome poeta, palafitas mastigam o manguezal,
E cospem meninos bandidos e meninas prostituídas
Ah meu poeta, meus versos logo serão ditos: versos amargos,
Rimas repetidas, sons vagos, vindos de um passado longínquo,
Senzalas - senhorios, feudos – vassalas,
Poeta! Aonde esta tua espada, teu sonho, tua verdade,
Com quantas palavras, eu fustigarei teu coração, até que tu vejas.
Que careço da piedade, de amor e lealdade.
Minha cidade é pequena, meus versos são menores,
E na soma e no enlace, as duras penas e macias tintas,
Rimarei com versos de dor, o tenho a oferecer: Amor!