A PÉTALA DESBOTADA

A PÉTALA DESBOTADA

J.B. Xavier

...E quando eu pensava, enfim, já ter te esquecido,

Eis que uma pétala desbotada encontrei no livro que relia!

Era uma marcação, pensei. O que seria?

O que estava a me dizer essa página que não li,

E essa pétala em forma de coração?

Então, retirei a pétala, que sob si escondia

O início de um risco vacilante.

Um rabisco nervoso lá estava, feito às pressas, num lápis apagado,

Do qual eu nem lembrava a autoria,

E uma seta que descia ao pé da página, serpenteando em euforia

Levou meu pensamento para a linha que há muito tempo já leu:

E lá, contornada com o grafite, estava escrito: “te entrega o seu”.

Dali a linha seguia, ainda nervosa, como se às pressas fosse traçada,

E seguia, ainda esguia, para cima, até próximo à margem,

Onde se lia, contornada, a expressão “doce amada”.

Depois a linha descia, num zigue-zague inconstante,

Cruzando a página inteira, passou por sobre si mesma,

E finalmente pararia no desenho pequeno de uma lua,

E contornava, tremendo, a palavra “tua”.

E foi somente agora, na releitura do livro, após tudo quase extinto,

Que surgiu tua mensagem, completa, em minha mão.

Ela sempre esteve ali, na pétala desbotada,

Coloquei-a em seu lugar: “Tua doce amada te entrega o seu coração”.

* * *

JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 12/05/2009
Reeditado em 12/05/2009
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