MARGINAIS

Sala vazia,

apenas as velhas cadeiras

empoeirando...

imóveis em linha.

Aguardando...

a chegada do tumulto.

Repousa, ainda,

o túmulo da dúvida!

Do fundo observo

o universo negro

à minha frente,

mostrando meus erros

diariamente!

Roubando-me a infância,

encurtando a distância,

entre o fundo da sala

e o saber da lousa.

Permanece imóvel a ignorância

do primeiro dia em que estive aqui.

Foi-se embora o meu quintal!

Com ele a sensação

de que o mundo acabava

após o muro.

Hoje esta sala

é a luz dos novos dias,

a luz que me orienta.

Ensinam quase tudo

e só aprendemos

o que queremos

para construir o caminho,

escrever as poesias,

contar novas estórias,

multiplicar as alegrias!

Compor devagar a memória,

colorir o futuro com cores diferentes,

completar o caderno

com a inteligência transparente,

que só possui quem sabe ler

a própria biografia

sem um livro na mão!

E nesse espaço sem fronteira,

que me separa do quadro-nunca-negro,

coube bem mais que uma geração.

Foi cenário de horas intermináveis,

das brincadeiras impagáveis

e dos olhares mais sinceros

que cruzaram os meus.

E se ao final do ano,

o boletim rolava pela face

como lágrima,

obrigando-me a fazer outra poesia,

no mesmo tema, na mesma rima...

Servia de consolo

a menina sorridente,

meu amor repetente...

que como eu

aqui permanecia,

no fundo da sala,

à margem da vida!