A Sublimação do Amor
 
Quando abrir-se a porta
da prisão de um delírio poético,
o poeta pedirá a Deus
uma fagulha do seu poder,
para assim criar um mundo particular,
uma extensão de seu ego.
Pedirá à divindade o pincel
e as tintas para criar a sua obra.
Abandonará a realidade
e passará a divagar na subjetividade.
Aumentará o número de noites
e o brilho fulgurante das estrelas,
Acasalará os versos com sonoras melodias,
fazendo canções
que serão os caminhos
dos amantes apaixonados.
Cheios de calor humano
dançarão no ondular fresco da brisa.
A epiderme de um será tocada
pelo outro e ambos tocados pela natureza.
Dará merecidas férias ao tempo,
fazendo silenciar todos relógios.
Dará o momento de encontro,
mas dispensará a obrigação.
O compromisso estará no prazer de estar
e não no dever da presença.
Acima das sensuais carícias
estará o verdadeiro afeto
que alimenta a alma.
Tudo isto criará
o argumento de belo quadro,
fixando uma imagem,
surgindo no presente,
mas ficando como que fotografia
a guardar o passado.
Será esta reserva de alegria
encerrada nas gavetas
do armário da memória.
Será momento de luz poupado
para eventuais necessidades futuras.
Não bastando ainda,
tentará retirar os limites
para encontrar saudável liberdade
e esta surgirá acompanhada
do respeito das consciências amadurecidas.
Será liberdade entre pacíficos
e assim não mais se criarão novas feridas,
permitindo que no futuro
não mais existam as cicatrizes
dos confrontos de ódio.
Impossível ou alguma possibilidade,
delírio febril e maturidade
do sonho de infância.
O poeta, então, se faz cavaleiro,
cavalga no lombo da esperança,
ganha fé inexplicável.
Ouve vozes que lhe falam
de um tesouro oculto no arco-íris
dos dias da eternidade.
A vida objetiva quer  retornar ,
mas o vivente ainda caminha
pelas trilhas da imaginação.
Ouve uma única voz
e esta lhe diz
que, quem sabe um dia,
o imaginário possa ser real.
Encontra, assim, um ponto de encontro,
uma ponte de retorno para o cotidiano.
Volta com os lábios colados
e com a língua
e a garganta completamente mudas.
Cobre-se com um manto de quietude,
envolve-se numa túnica de denso silêncio.
Sente como se tivesse perdido algo,
reconhece uma sensação de vazio,
quer a poesia.
Mas esta fica apenas a lhe fluir
como um mistério escondido
entre pensamentos e sentimentos.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 09/05/2009
Reeditado em 30/05/2009
Código do texto: T1585161
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