Livres para Amar
 
Por que enraizar-se com os pés
sobre o solo da terra,
se mente e coração podem criar asas
e voar para muito longe?
Por que mortificar os pulmões
com o veneno dos muitos cigarros,
se é o rarefeito ar que  vem da serra
que traz a leveza da inspiração?
Por que mergulhar no movimento impessoal
que inunda as ruas,
se na paz da solidão encontra-se
o refúgio individual da alma?
São muitas as camadas de cotidiano
que se superpõem,
dizimando a identidade,
sentindo perder-se o controle da vida,
rebelando-se contra a resignação,
contrariando-se com o destino,
desejando escrevê-lo
conforme a própria vontade .
O alto verão que aquece
as ardentes emoções apaixonadas.
Os instintos primários do corpo,
a poderosa consciência da alma.
A individualidade
e a necessidade de sua integração
se confrontam.
Ora o corpo leve e a consciência pesada,
ora a alma leve e o corpo enclausurado.
De um lado a força que une,
do outro a que separa.
Luz do céu, suave luminosidade da prateada lua,
sensibilidade do coração,
Lume do céu, incandescente sol de cada manhã,
claridades da alma.
No  acasalar de dias e noites,
o vivificar de libertos  e anárquicos sonhos,
transformando o manto asfáltico da cidade
em ricos e frondosos jardins,
mutando o relevo reto dos grandes prédios
em curvilíneas montanhas,
retirando as barreiras de concreto
para premiar a visão com o horizonte.
Lá o finito não tem fim,
o tempo não existe, divagam  
infinito e eternidade.
Caminho sem esquinas,
estrada plana, sem pedras ou buracos.
Lá perder-se de tudo
para encontrar-se em si.
Reconhecendo-se só,
para compartilhar-se com a companheira,
confessando intimidades
não com as palavras,
mas com os olhares.
Tendo a ingenuidade das crianças,
a pureza dos que não têm a malícia.
Antes abençoados do que excomungados,
antes divinos do que diabólicos.
A sensualidade não estará no desejo de posse,
mas no gozo de liberdade.
Haverá um toque
das refrigeradas brisas trazendo
renovadas esperanças futuras.
A expressão do rosto
denunciará a felicidade dos saciados.
O corpo estará a enganar a alma
ou ela fingirá não ver, sendo conivente.
A paz de cada um será o alimento compartilhado,
sendo de ambos.
Corpos preguiçosos,
músculos e nervos relaxados,
leveza das emoções.
A beleza feminina a integrar-se
com a força masculina.
Numa estando a fonte inspiradora
e noutra a forma realizadora.
Completando-se, complementando-se,
tendo particular satisfação,
por dividirem de si
para obterem do outro,
premiando e premiando-se.
Ganhando oníricas asas
para um voo em dupla
pelo céu da eternidade.
 
 
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 06/05/2009
Código do texto: T1579635
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