O Silêncio das Lágrimas Solitárias
 
E no arder dos olhos, 
sentir a necessidade
de lavar a alma.
E chorar um choro manso, c
horar bem devagarinho,
até sentir que o sal das lágrimas
suturou as feridas do coração.
Percebendo que  hão de ficar cicatrizes,
que há de ficar a dor oculta,
agulhada profunda
que poderá fazer dobrar
o próprio corpo,
Ficar na posição fetal,
denunciando sua falta de proteção.
Reconhecendo vulnerabilidade,
assumindo fragilidade.
Fosse a paixão um belo vaso,
este agora seria apenas cacos,
Muitos pedaços de tristeza,
desintegrados sem a liga do afeto.
Abatimento, falta de graça
onde tudo era vida e fantasia.
Prolifera no peito a fértil semente
de poderosa angústia.
O incômodo da dor,
a sua motivação invisível,
sua causa etérea.
Sentimento destrutivo,
rejeitar-se intolerantemente, culpando-se,
acusando-se por tudo o que fez,
por tudo o que deixou de fazer.
Haveria um torturador indiferente
ou um algoz eufórico?
Seria vítima de si mesmo,
ou objeto de agressões de outrem?
Por que o corpo transmitia a sensação
de ter apanhado muito?
Uma surra psicológica
a espalhar seus hematomas pela alma.
Após a intensa dor,
a necessidade de buscar algum consolo.
Fazer rescaldo, levantar o número
e profundidade das feridas,
substituir a agressividade
pelo cuidado de enfermeiro,
suturando os doloridos cortes,
criando protetoras cicatrizes.
As cicatrizes que geram lembranças,
mas insensibilizam a dor.
Necessário alimentar com carinho
o vazio que ficou no oco coração,
Dar-lhe novo sentido,
erguer-lhe os olhos para o horizonte,
substituir a depressão reinante
por nova promessa.
E através da promessa criar esperança,
gerando novo futuro.
Tendo no amanhã o santo remédio
para curar as dores presentes.
Se guerreiro, saber que uma batalha perdida
não é o final da guerra.
Se pacífico, saber que a força da aceitação
pode ser maior que a rebeldia.
Renovadas esperanças, unguento de vida.
Mas no presente ainda a dor.
As defesas abaladas, o orgulho ferido,
a vaidade dilacerada, sensação de derrota.
Hora da auto-estima aprender a conviver
com a adversidade, criando novas forças.
E então lavar com água pura
as amargas águas das lágrimas renitentes,
retirando, assim, a névoa dolorida
que impregna os olhos e atrapalham a visão,
como aquele que ficou cego
e voltou a enxergar novamente.
Tendo o seu batismo de dor,
mas estando feliz por ser sobrevivente.
Ainda sensível, vertendo agora
algumas ocultas lágrimas de alívio,
sentindo que o peso do coração
tornou-se mais leve,
abrindo pequeno sorriso
na esperança de reencontrar a felicidade.
 
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 06/05/2009
Código do texto: T1579529
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