Tua foto...
Da moldura tua foto me sorri...
Pra ti o tempo não passou...
- Nem o meu amor mudou...
Teu rosto se desdobra em muitos rostos
E, para onde quer que olhe,
Lá estás...
E eu te vejo ainda além do rosto teu,
Teus olhos infinitos
Límpidos e puros
Como o orvalho da manhã...
- São a calma e a felicidade que não tenho...
Vejo minha foto: como envelheci!...
O tempo para mim foi inclemente...
E como dizia Vinícius:
“... As feias que me perdoem,
Mas beleza é fundamental!...”
Onde está o sorriso que brincava nos meus olhos?
O corpo esguio?
A pele que era macia e suave
E jamais sentia frio?...
- Chronos odeia as mulheres!...
Meus lábios não beijam mais com o mesmo ardor
E meu corpo não estremece como antes
Ante o teu calor...
- Mas não sou só meu corpo, sou minh’alma alma!!
E esta é a essência do que sou...
E não amo apenas o teu corpo,
Mas tua alma que nele se formou!...
Na moldura tua foto sorri pra mim...
Tua foto companheira,
Que me vê chorar e me vê sorrir...
Tanta vida dispersada
Entre sofrimentos e lonjuras...
Ouço agora as nossas juras
De amor eterno... Perjuras...
Quem sabe o vento, e não o tempo,*
Te traz de novo pra mim...
E, pela magia do amor,
Que me vejas em plena primavera,
Primavera em flor...
Contigo aprendi
A escrever meus pobres versos
Em suas pobres rimas,
Marchetados de lágrimas furtivas
Que escondo sob um sorriso, e, mesmo assim,
Alguma me trai e desliza pelo rosto...
O meu rosto está marcado,
Não pelas rugas,
Mas pelo caminho das lágrimas que por ti derramei...
Não sou eu a mesma de outros dias...
Mas se pudesses ver meu coração
Não me deixarias! A sua pulsação
Tem o sabor das tuas mãos macias...
Morre-se muitas vezes... Em um mesmo corpo...
O que tenho hoje a oferecer? As minhas mãos vazias?...
Um corpo já sem viço? Uma sobra de paixão?...
- E pensar que eu era tudo o que querias...
Na foto o teu rosto me sorri...
- Na vida há tantas ironias...
Tu sorris... Eu choro... E escrevo...
Lamento o dia em que me despedi:
Ali morri...
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Nota da Autora: * Alusão à Trilogia O TEMPO E O VENTO de Érico Veríssimo, grande escritor riograndense.