AMAR DE VERDADE

Não julgo que este amor seja assim
eterno, à revelia da razão
Eterno ele é, mas consciente
do quão duro pode se tornar

Não faço das palavras rio incessante
que vai desaguar sempre na imensidão
de um mar desconhecido chamado
o outro amar

Se posso me conter mas não o faço
é porque meu coração estreita o passo
entre aquilo que todos procuram e temem
mas que eu não admito temer

Se posso racionalizar o que sinto
mas ainda assim não me permito
é porque mantenho meus braços abertos
ao que muitos temem por sofrer:

Amar sem freios, ainda que doa
me tornar mais vivo, ainda que doa
sentir a ausência, ainda que doa
e uma felicidade que não tem fim, ainda que doa

É assim
prefiro me sentir vivo
me submetendo ao amor verdadeiro
mesmo sabendo que por vezes ele dói de verdade
pois só dessa maneira acabo descobrindo
o quão vivo posso me sentir
o quão verdadeira pode ser a felicidade

Eterno sim, esse amor, não porque me submeta
mas porque na luta, no passo que se dá
contra a aviltante e falsa moralidade
muita gente desiste, pois que se entrega
não percebe que a felicidade não pode se medir em doses
tem que ser completa, incandescente, ainda que curta
como a visão entorpecente de um lindo cometa...

Prefiro a dor de amar de verdade
ainda que esse amor me enlouqueça
à dormência ridícula da sanidade
por mais confortável que me pareça