AH, MEU AMOR... PARA ONDE FOI PARAR MEU JUÍZO?
Derretem-se as velas
Lá pelas baldias bandas
Dos fundos negros da capela
Uma dor saranda
Me ordena
A orar fronteiro a elas...
Imerso em internos gritos
De fobias e temor
Prostro-me ali, aflito,
Meio sincero, meio ator
A consumir-me neste rito
Ah, meu amor...
Diga-me então
Para onde foi
Parar meu juízo?
Por que ao invés de viver
Ignoro qualquer aviso
E prefiro-me no pavor
De pensar-me na vida
Sem o deleitoso fulgor
De teu gaiato sorriso?
Careço tanto,
Para concretizar meus atos,
De um real sentido...
Pois se sou eu mesmo
Que recrio esta dor
Ou, conforme for,
Transporto-me
Ao paraíso?
Pior é que sei, sem saber direito
Que nada disso é verdadeiro
Talvez, nem o arfar do meu pulmão
Ou a incômoda vespa do meu vespeiro
Quiçá, sequer a derradeira redenção
E, mui, mui provável, meu eu inteiro...