VONTADE DE AMAR
Quando pela primeira vez
Pus os olhos em você
Ocorreu-me algo
Totalmente ignorante
É que
Nada havia a se perceber,
Nada importante a se ver
Sequer a antever...
Neste inicial momento
Nenhuma emoção, sentimento
Mostrou-se importante
Pouco que fosse...
Você mesma nem me veria
Não tivesse, eu mesmo,
Que aparecer-lhe...
Foi tudo, por assim dizer,
Um fortuito acidente
De resultado indeterminado,
Porém recorrente...
Nem posso imaginar como
Você veio parar em meu colo
A roçar-me e a pedir
Que sejamos algo menos vago
Um para o outro
Do que foi para nós
Este paradoxal destino...
Embora neste quarto
Existamos somente nós
O fortuito, nem mesmo aqui,
Nos deixou inteiramente a sós...
Colocamos de lado
O meramente casual,
O claramente ilusório
Para exercermos,
De forma falsamente racional,
Esse nosso amor tão aleatório...
Diga-me, por favor,
Se também não é refém
O que mais no amor é real
Além da vontade egoísta
De se amar alguém?