Retalhos de Amor
Movimenta entre os dedos
uma bolinha de vidro.
Na fronte um olhar fixado
em um ponto distante.
Não fosse o mover dos dedos,
suporia ali haver uma estátua.
Vida parecendo se ausentar,
convertendo-se em mais um objeto.
Mero engano,
a pequena bola produzia
uma espécie de magia.
Conforme a movimentava,
desenvolviam-se pensamentos,
relâmpagos, fagulhas de luz
a iluminar com vida a inércia.
Acordando para o corpo,
sentia-se desacomodado.
Ossos desalinhados dos músculos,
desconforto da poltrona.
Poucos minutos antes
haviam trocado palavras.
A voz já tinha ido,
mas ficava o eco ainda
a pronunciá-la
incessantemente,
enchia o cômodo.
Presença tão indesejável
quanto por demais necessária.
Numa contradição
de querer e repelir,
para concluir pelo querer,
mas reconhecer
que já era tarde demais.