O poeta e o andarilho
Ao passar pela praça comecei
A pensar em você.
Pensava em seus beijos,
Seus abraços,
Em seus dedos ao me acariciar.
Desde então, não consegui
Mais andar.
Senti uma sensação estranha
E resolvi me sentar.
No banco ao meu lado
Um velho andarilho estava a cochilar.
Dei-lhe um cutucão
Até o acordar.
Ele olhou em meus olhos e disse
Pra eu não amolar,
Pra deixá-lo em paz
Pois ele queria descansar.
Peguei um papel e uma caneta
E entreguei-lhe, dizendo pra ele se calar
E apenas me escutar
Pois eu ira poetizar
E ele iria me ajudar.
Ele amassou o papel
E jogou-o ao chão,
Dizendo que não iria ajudar
E mandou-me sozinho se virar.
Comecei então a chorar.
Disse-lhe então:
_ Meu amigo você tem que me ajudar
Eu não vou conseguir escrever
Eu só quero poder falar.
Ele então se abaixou até o chão.
Desamassou o papel e
Novamente tomou-lhe em mãos dizendo:
_Vai lá senhor poeta, era só ter pedido com educação.
Agora vamos, abra-me seu coração.
E diga tudo sobre essa sua grande paixão.
Respondi-lhe que:
_Uma menina meiga ganhou meu coração,
Uma menina inocente que tinha no olhar
Uma pureza enlouquecente,
Um sorriso encantador
Uma voz suave
E um corpo sedutor.
Continuei poetizando até descarregar
Toda a minha paixão.
E ao terminar o meu poema
Pus-me a chorar.
Lágrimas de carinho, em meu rosto
Passou a rolar.
Mas o andarilho ao olhar em meus olhos
Indagou-me um sorriso e
Começou a falar:
_Caro poeta um segredo preciso lhe contar.
Entregou-me o papel e ai pude observar.
Ao invés de poema havia um retrato meu.
Não entendendo nada, novamente chorei.
Gritei com ele, e até o difamei.
Mas ele mandou-me calar.
Pois agora era ele quem iria falar:
_Meu jovem poeta, eu não sei ler
Nem escrever, fui impedido de estudar.
Uso um pouco do que sei pra poder desenhar.
Respondi a ele:
_Mas seu moço e o poema que
Acabei de recitar, você não o escreveu,
Como irei me lembrar?
O andarilho pegando em minha mão disse:
_ De seu poema jamais vou me esquecer.
È só olhar em seu retrato que já me lembrarei.
E tem mais meu jovem poeta,
O seu poema sempre eu irei declama,
Em cada rua em cada praça
Por onde eu passar.
Eu farei muitos rirem,
E farei outros chorarem.
E no final de cada verso
É de você que eu irei falar.
Falarei de um menino apaixonado
Que me tirou do sono só pra ele
Poder poetizar.
E direi a todos sobre o poder do amor
O poder de usar palavras, de usar rimas,
Pra poder se expressar.
O mendigo se levantou me deu
Um abraço e se pos a chorar.
Dizendo que de mim pra sempre se lembrará.
Eu o abracei e o agradeci pela ajuda,
Pedi a ele pra ficar.
Pois tínhamos muito ainda pra conversar.
Ele negou dizendo que precisava ir
Pois sua vida era ficar perambulando por ai
Tentando encontrar pessoas que como eu
Tem o dom de poetizar.
Deu-me tchau e se pos a caminhar,
Novamente sem rumo tentando um
Outro louco encontrar.
Meu sentimento que antes era estranho
Eu consegui interpretar.
Levantei-me daquele banco
E meu amor fui procurar.
Encontrei-a no portão da escola
Cansada de me esperar.
Perguntou onde eu estava,
E eu achei melhor não contar.
Disse apenas que estava sentado na praça
Sonhando acordado pensando no vestibular.
Eu a abracei, dei-lhe um beijo e disse:
_Meu amor vamos embora,
Já passou da hora
E eu preciso estudar.
Pela praça sempre continuei passando,
Continuei procurando.
Mas aquele andarilho eu nunca mais encontrei.
Não sei pra onde foi, nem sei onde está
Penso apenas que deve estar
Sentado em algum banco por ai
Tentando cochilar.