TODOS OS MEUS AMORES
Ceguem-me!
Privem-me,
ó insanos,
da magia de poder vislumbrar
a liberdade que se descortina
no horizonte imaginário da memória
e de toda beleza contida no universo!
Emudeçam-me!
Privem-me,
ó dementes,
do orgulho de poder contar todas as histórias
escritas com o sangue de meus antepassados,
e da alegria contagiante de poder cantar
toda liberdade da qual eu tenho direito!
Tapem-me os ouvidos!
Privem-me,
ó hipócritas,
do privilégio de poder sentir nas manhãs primaveris
a presença do criador que faz do silêncio uma oração,
e de poder ouvir nas doces noites enluaradas
os acordes cristalinos de um violino apaixonado!
Ceguem-me, emudeçam-me, tapem-me os ouvidos
Privem-me de tudo aquilo da qual eu tenho direito
Todavia eu vos imploro;
não me arranquem do peito o coração,
pois é nele que se hospedam,
na quietude mansa das noites de inverno,
todos os amores de minha vida!