Amor: doença e cura
Os dias passam e meus pensamentos a seguem,
Uma sombra invisível esvaindo-se pelas ruelas,
Um corvo espreitando esquinas sob o poste de luz,
Um fantasma atravessando portas trancadas,
Seus passos tão conhecidos fazem o mesmo som,
Seu riso nervoso ao telefone é tão familiar,
Sua voz rouca ainda me confunde as emoções,
Seu jeito ora tão doce, ora tão agressivo em me tratar,
Você me faz um carinho para imediatamente me machucar,
Chama-me de ‘amor’ para depois dizer ter sido um gesto sem significado,
Enquanto escondemos nossas lágrimas simultâneas sob mantos de proteção,
Possuímos rotas tão opostas em um mesmo mapa sem qualquer orientação,
É tão necessário delimitar as fronteiras para não nos perdermos,
Embora estejamos mais cegos que morcegos em dia de sol fora da caverna...
Congelo todo o vulcão que se mantém em erupção contínua por você,
Fingimos conviver somente com trivialidades sem sentido algum,
Somos tão profundos em nossa superficialidade cuidadosa,
Tentamos evitar os campos minados que nos cercam,
Mas explosões são inevitáveis, assim como as dores persistentes,
Você diz não sentir mais nada em relação a mim, diz que sou passado,
Diz que nunca fui coisa alguma, apenas uma torpe ilusão,
Esforça-se para não demonstrar sentimentos contraditórios,
Deixa claro que possui opções mais concretas e melhores,
E eu sofro calado sem conseguir me mover, preso em areia movediça,
Escuto suas provocações e sorrio de um jeito triste que você nem imagina,
Uma força inexplicável me segura ao seu lado, mesmo destroçado,
Sei que você não me perdoou e nem o fará jamais, não pode e não mereço,
Sei que de alguma forma bem torta ainda existe algum amor por mim em você,
Sei que você lutará para mantê-lo submerso nas águas escuras do esquecimento,
Sei que amor e ódio, mágoa e saudade habitam em seu interior dolorosamente,
E mesmo assim não nos desviamos um do outro, colidindo dia e noite,
Estamos algemados um ao outro sem querer de fato uma chave de libertação,
Num jogo de insanidade onde somos a doença e a cura para o impossível...