Abandonar-se

Às vezes se está vazio,
como que os copos
de um bar após o movimento.
É estranha letargia
onde o espírito
cansado do cotidiano
parece abandonar o corpo.
O ego é legado
a um estado de marginalidade,
como se orgulho
e vaidade lhe fossem peso.
Fica a vontade de viver
ligada apenas aos instintos
de conservação e sobrevivência
Perdem-se todas as ilusões
com relação a si mesmo.
Vê-se ínfimo como, de fato, o é.
Desvenda o seu patético
e quixotesco heroísmo,
desmantela a sua fantasia de força.
Deixa que letras deslizem
o papel de forma desatenta,
desfolha as pétalas de uma flor.
Tenta fingir descaso
com os impulsos do temperamental
e caprichoso coração.
Lacra as pálpebras dos olhos,
não querendo ver
o que insiste em visitar o olhar.
Respira e expele o ar
buscando banir, juntamente com ele,
os sentimentos amargurados.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 26/04/2009
Reeditado em 07/06/2009
Código do texto: T1561697
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